O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, prestou depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (7) e negou integrar o núcleo jurídico que formatou decretos e minuta que serviriam para um golpe de estado no Brasil após derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022.
José Eduardo foi ouvido por cerca de duas horas na Superintendência da PF em São Paulo. O religioso entrou na mira da Polícia Federal durante operação deflagrada em fevereiro deste ano. Ele foi alvo de um mandado de busca e apreensão e está proibido de manter contato com os demais investigados, de deixar o país.
Durante o depoimento, o padre disse à Polícia Federal (PF) que conversou com investigados pelos ataques de 8 de janeiro apenas para prestar “apoio espiritual” e que não tem nenhuma ligação com a tentativa de golpe.
O advogado Miguel da Costa Carvalho Vidigal, que representa o padre José Eduardo, entende que o depoimento foi positivo e demonstrou que o padre nunca participou de qualquer reunião nem colaborou na redação de qualquer documento que visasse favorecer uma ruptura institucional no país.
Ele também afirmou que recebeu com “espanto e inconformidade” o questionamento sobre conversas extraídas — pelos agentes da investigação — do celular do religioso com fiéis e sacerdotes que procuravam o padre com regularidade para obter “direção espiritual”.
“Frases tiradas de contexto, que nada tinham a ver com a investigação, em mensagens que estão protegidas pelo Sigilo Sacerdotal. É um precedente imenso em nosso país que não pode ser ignorado. O Estado Laico que impera em nossa legislação prevê a total separação da Igreja e do Estado”, avaliou o advogado.
Miguel da Costa Carvalho Vidigal também afirmou que os agentes federais não entregaram cópia do depoimento e que a negativa seria “ordem do Sr. Ministro Alexandre de Moraes [ministro do Supremo Tribunal Federal]”, complementou.
Na decisão que autorizou a operação contra Jair Bolsonaro (PL), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), citou que o padre integrava o ‘núcleo jurídico’ do suposto grupo golpista.
Esse núcleo tinha a função de “assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado”.
De acordo com a PF, o padre José Eduardo participou de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022, com Filipe Martins e Amauri Feres Saad, para tratar do plano golpista, no Palácio do Planalto.