Célia Parnes
Vacinas costumam deixar, no local onde são aplicadas, uma dor leve e passageira, como lembrança positiva da imunização que está por vir. Já o sofrimento de quem não tem alimento na mesa é brutal. A falta de nutrientes prejudica o desenvolvimento infantil e provoca danos físicos e psicológicos em todos os que sofrem com a insegurança alimentar.
De acordo com o órgão brasileiro do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, a subalimentação já atinge quase 10% da população brasileira. Por isso, a campanha Vacina Contra a Fome, anunciada pelo governador João Doria e iniciada oficialmente no dia 5 de abril, é uma oportunidade para impedir que a insegurança alimentar se agrave ainda mais na pandemia.
É uma ação concreta para amenizar a dor de quem tem fome por meio de um gesto simples, direto e efetivo. Todos os que se dirigirem a um posto de vacinação em busca da tão sonhada imunização contra a covid-19 estão convidados a levar consigo um quilo de alimento não perecível como arroz, feijão, macarrão ou leite em pó. As informações sobre a iniciativa estão disponíveis no site www.vacinacontraafome.sp.gov.br .
Quem já recebeu a vacina também pode levar sua doação ou aguardar o dia da segunda dose para entregar a doação em dobro: dois quilos de arroz, feijão, macarrão ou leite em pó, colaborando para que ninguém sofra com a fome.
A ação é absolutamente voluntária e parte do princípio “doa quem pode”, com pessoas oferecendo o que quiserem e o que estiver ao alcance de cada um. Quem não puder contribuir receberá a vacina da mesma forma, na ordem dos grupos prioritários, gratuitamente e de forma igualitária.
Estender a mão a quem precisa também transforma a vacinação em um gesto de amor e solidariedade, carregado de significados, em que muitas famílias poderão ter parte de sua dor amenizada e esperança de que dias melhores estão mais próximos do que imaginamos.
O esforço é para que este ato de amor e solidariedade chegue a todos os 645 municípios do Estado.
Os gestores municipais conhecem a realidade local, quais são e onde vivem as famílias em situação de vulnerabilidade. O esforço conjunto já obteve sucesso no programa Alimento Solidário, que distribuiu 1,75 milhão de cestas básicas desde o ano passado. Agora, o objetivo é ampliar ainda mais a rede de solidariedade, formada pela sociedade civil, iniciativa privada e poder público.
Com a campanha Vacina Contra a Fome, agimos duplamente em favor da vida. De um lado, quem se vacina fica mais protegido contra o coronavírus e menos suscetível a infecções de maior gravidade. De outro, cuidamos de famílias desassistidas e vulneráveis, marcadas por cicatrizes profundas provocadas pela fome.
Está comprovado que a imunização em massa e o isolamento social são peças-chave no combate à pandemia. Entretanto, a fome é imediata e desespera todas as pessoas que não têm comida na mesa. Juntos, podemos enfrentar a covid-19 e, ao mesmo tempo, amenizar a dor de quem tem fome em um abraço social que nos antecipa a vitória na crise do coronavírus.
Em São Paulo, pedimos que todos participem dessa corrente de esperança.
Célia Parnes é Secretária de Desenvolvimento Social do Governo do Estado de São Paulo