Emerson Márcio Vitalino é Emerson Osasco. Exatamente assim. Ele adotou em seu nome o nome da cidade em que vive desde a infância. Foi em Osasco que viveu e superou os preconceitos que já sofreu por ser negro. A luta contra a ignorância humana e discriminação pela cor deixou Emerson mais forte. Ele é aquele homem com o braço direito erguido e punho fechado cuja a foto estampou reportagens sobre o movimento que aconteceu na Avenida Paulista, em maio do ano passado, quando apenas um grito ecoava na via mais movimentada da Capital: vidas negras importam.
Mas não é por esse ato que ele gosta de ser lembrado. “Minha primeira participação foi na eleição de 2016. Faltaram 400 votos para que eu pudesse estar na Câmara lutando pelos moradores da nossa cidade as pessoas me colocam como o cara da Paulista. Eu não sou só um cara da Paulista, eu sou o Emerson, nascido e criado na periferia, na Zona Norte de Osasco, e que faz inúmeras coisas em prol da população mais carente”.
Assim como Emerson não se resume ao ‘cara da Paulista’, sua luta contra o racismo também não começou ali. “Ela começou desde quando eu nasci porque, no Brasil, o negro luta contra o preconceito desde o momento que nasce. O que mudou é que dessa vez ela foi gravada ela e filmada. Os agressores os racistas foram mostrados. A sociedade viu que hoje nós vivemos em um momento que eles [os racistas] saíram debaixo do bueiro e estão nas ruas fomentando o racimo e a violência contra as pessoas pelo simples fato delas terem uma cor diferente”.
A escola, que deveria ser um lugar agradável para as crianças, nem sempre foi para Emerson. Juntar-se a um grupo de crianças poderia se transformar numa verdadeira tortura psicológica. “Quando eu estava no ensino fundamental eu ouvia muito coisas do tipo: “Eu não quero ficar perto desse negro fedido”, “eu não quero me misturar com preto”. Era normal. As crianças repetiam isso com muita frequência e eu tinha que aguentar calado até que eu consegui lidar com isso. Hoje falam que a pessoa que luta pelos seus direitos é ‘mimimi’, mas não é. Eu tive uma força dentro de mim diferente que eu consegui sobreviver com todo preconceito e racismo que eu vivia”.
Um dos piores momentos, segundo Emerson, foi quando dois seguranças de um banco suspeitaram que ele – então com 11 anos, e o irmão – com 17 anos, estavam sequestrando a própria mãe. O motivo? Eles são negros e ela, branca. “No banco ela foi abordada por dois seguranças que perguntaram: “Quem são esses indivíduos no carro da senhora?”. Ela respondeu que eram os filhos dela e eles insistiram: “Senhora pode falar pra gente. A senhora está sendo sequestrada? A gente vai proteger a senhora se esses marginais tiverem te causando algum problema”. Minha mãe explicou de novo que éramos os filhos dela”, relembrava Emerson, com a voz embargada.
A situação não terminou ali. “Enquanto minha mãe estava no banco o policial voltou com a arma em punho e falou: “desce do carro”. Eles levaram a gente para cantos diferentes e perguntaram: “vocês estão sequestrando aquela mulher”? Eu disse que não. Que ela era a minha mãe. Ele insistiu, me deu um chute e pediu que eu falasse a verdade. E eu disse que era a minha mãe. Eles foram embora. Não pediram desculpas e não falaram nada. Quando a gente saiu do banco meu irmão começou a chorar e falou para minha mãe o que tinha acontecido. Minha mãe voltou para o banco indignada e disse ao gerente tudo o que tinha acontecido. Imagina uma criança passar por isso. Ter que provar que sua mãe é sua mãe. Você tem que mostra para a sociedade que a cor da sua pele não diz nada que te inferiorize”.
Como vereador, uma de suas propostas é fazer valer as leis antirracismos que já foram aprovadas e não são implantadas. “Dentre elas a Lei 10.639, que cuida exatamente do ensino, nas escolas e instituições, para que a criança cresça sem julgar o colega pela cor da pele”. A lei federal estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio.
“Uma criança de 5 anos ter que vender doces no lixão para se manter com sua família é algo muito forte”
Durante sua infância, vereador Emerson acompanhava o pai para vender doces e salgados no lixão da cidade. Hoje, a lembrança do que viveu lhe dá forças para trabalhar por melhores condições de vida para crianças da periferia. “Meu pai começou a ser ambulante em Osasco e um dos lugares onde a gente vendia bolacha e salgadinho era no lixão municipal, praticamente ao lado da minha casa. Era realmente lixão aberto, com muitas pessoas procurando comida e roupa. Procurando dentro do lixão meios de sobreviver e a gente estava lá, todo dia, vendendo doces e salgados para sobreviver. Mas para uma criança de 5 anos ter que vender doces no lixão para se manter com sua família é algo muito forte para sociedade. Quando eu vejo meu passado e imagino o futuro isso me dá mais responsabilidade. Eu tenho que ter forças para que outras crianças não passem pelas provações que passei”, declarou o vereador.
Emerson quer que autoridade feminina acompanhe vítima de violência na delegacia
Em Osasco a Guardiã Maria da Penha conta com equipe especializada para atender casos de violência doméstica. Mas para Emerson a mulher precisa ser acompanhada por uma autoridade policial feminina, desde o início da ocorrência até a saída da delegacia. “Quem melhor para entender as dores de uma mulher do que outra mulher? E precisa ser uma mulher que tenha autoridade e que vá impedir qualquer outro senso de agressão que a vítima venha a sofrer. Muitas vezes uma mulher procura uma delegacia buscando ajuda e acaba sofrendo mais uma agressão porque pode ser atendida por um homem que não entende o que uma mulher sofre e quais são as dores dela”. Emerson também sugere a criação de um canal de comunicação entre vítima e GCM. “É preciso ter um acompanhamento com essa mulher ligando para essa guarda para que elas se conversem e a vítima entenda que o município está aqui amparando para o que ela precisar”.
Vereador coloca jurídico à disposição para mulheres vítimas de violência
No início de janeiro uma frentista foi vítima de assédio sexual em um posto de combustível na Av. dos Autonomistas, altura do Km 18, em Osasco. O homem olhava a funcionária pelo retrovisor enquanto se masturbava. Ela conseguiu filmar e registrou boletim de ocorrência. Após o caso, o vereador Emerson colocou sua assessoria jurídica à disposição para atender a frentista. Segundo ele, as portas também estão abertas para outras vítimas de violência. “As mulheres sofrem muito preconceito todos os dias, então para todas elas nós deixamos nossa assessoria jurídica à disposição para que nos procure e possamos ajudar a minimizar qualquer sofrimento que venha a passar na cidade”. O contato pode ser no próprio gabinete do vereador ou pelas redes sociais. “Nós recebemos as mensagens, lemos e respondemos todas. Ninguém fica sem resposta”, concluiu.