*José Renato Nalini
A cada criatura humana se concedeu o privilégio de participar, indefinidamente, da obra do Criador. Sou adepto do design inteligente. Minha reduzida apreensão da ciência profunda me inibe de acreditar que tudo o que vemos resultou de uma explosão acidental. Conforta-me a ideia de que houve um plano e o projeto incluiu o protagonismo destes seres débeis e finitos, que passam algumas décadas – não mais – a experimentar esta aventura terrena.
Sempre me fascinou o mistério da concepção. Amor a produzir vida nova. Um novo ser, singular e irrepetível, é gerado nesse encontro fascinante. Quão maviosos os pensamentos dos casais que assumiram maternidade e paternidade responsável. Quantos sonhos embalam aquela espera de nove meses, até que uma criança enxergue a luz do sol!
Como explicar o milagre que envolve o nascimento? Alguém de que até há pouco sequer se cogitava, passa a preencher espaço imenso em nossa afetividade. Torna-se de imediato insubstituível. Alvo de permanente carinho e desvelo. É o destinatário direto dos planos e pretensões.
Experimenta-se o sentimento de ternura em relação a todos os nascituros. Por óbvio, aqueles mais próximos são os contemplados preferenciais. Nada se compara à devoção amorável destinada aos filhos. E, na mesma intensidade, aquela que se outorga aos netos.
Ser avô solidifica a convicção de que, a cada nascimento, se renova a aliança celebrada entre o Criador e a criatura. Toda criança que ingressa na humanidade é sinal de que Deus não desistiu da espécie, que o investimento nos homens não foi um fracasso.
Ou, como enxergou Ronald Laing, “cada vez que nasce uma criança, há uma possibilidade de adiamento. Cada criança é um novo ser; um profeta em potencial, um novo príncipe espiritual, uma nova centelha de luz que se precipita na escuridão. Quem somos nós para decidir que não há mais esperança!”.
Tive a inefável sensação de ratificação do compromisso e de renovação da esperança, ao nascer meu oitavo neto, Theo Nalini Schendel, em plena pandemia! Atestado visível de que Deus não renunciou ao resgate destas criaturas complexas, controvertidas, polêmicas e contraditórias. Mas, sobretudo, capazes de amar. Indício de que nelas permanece algo extraível da misteriosa onipotência divina.
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.