A defesa das quatro mulheres vítimas de racismo em um shopping de luxo em Cotia, entrou na Justiça com um pedido de indenização no valor de R$ 1 milhão. O caso ocorreu em um restaurante dentro do estabelecimento na Granja Viana, no dia 8 de julho.
O que aconteceu
Advogado enviou à Justiça de São Paulo o pedido de indenização para as quatro vítimas. A defesa, representada por José Luiz de Oliveira Júnior, pede que seja pago o valor de R$ 250 mil a cada uma das mulheres.
O pedido de indenização é direcionado a Thaís Nakamura, indiciada por injúria racial. Na hipótese de ela não pagar, o pedido se estende ao estabelecimento, segundo o advogado. A cobrança será feita somente se for aceita pela Justiça.
“A principal causadora [das ofensas racistas], a Thaís, será efetivamente condenada, e os demais subsidiariamente. A agressora precisa sofrer esse processo-crime. E um dos maiores prejuízos que as pessoas precisam sentir é no bolso”, disse José Luiz de Oliveira Júnior, advogado das mulheres negras.
Thaís foi indiciada indiretamente. Segundo a delegada da Polícia Civil Mônica Gamboa, a mulher foi responsabilizada pelo crime sem ter comparecido à delegacia. O inquérito, segundo a delegada, está no Fórum e será enviado ao Ministério Público.
A defesa de Thaís Nakamura disse que viu com “estranheza” o pedido de indenização. O argumento do advogado Waldinei Guerino Junior é de que o inquérito está no início.
Parece haver uma tentativa de monetizar uma situação sob a qual não há qualquer indício evidente, disse Waldinei Guerino Junior, advogado de Thaís Nakamura.
Relembre o caso
Thaís Pinheiro Andrade Nakamura foi flagrada por câmeras de seguranças de um restaurante. Ela apontava para duas irmãs e uma amiga negras e imitava um macaco.
Segundo as vítimas, a mulher se aproximou do grupo e disse que elas eram “lindas e corajosas”, em tom de deboche. Depois, ela teria perguntado ao marido de uma delas, branco, “por que estava entre as negras”, em momento também não captado pelas câmeras.
Durante o depoimento, uma das vítimas disse que Thaís perguntou para o namorado de uma delas o que ele estava fazendo no “meio de negros.” O homem pediu, então, que a mulher branca repetisse o que havia falado, dessa vez na frente da namorada. Ela teria se negado.
Ao ir ao banheiro, a vítima passou perto de Thaís. Na volta, ela disse que percebeu que a mulher a chamou de macaco. “Parei, olhei para atrás e perguntei se realmente ela estava incomodada e ela gesticulou que sim e disse: ‘É isso mesmo'”.
A delegada Gamboa disse que a psicóloga e a psiquiatra de Thaís afirmaram à polícia que a mulher “estava acometida de um surto” e estaria “em um quadro de depressão”.
Investigação policial
Thaís faltou ao depoimento agendado na Delegacia de Polícia de Cotia no dia 17 de julho. A acusada não compareceu por estar “sem condições emocionais de comparecer”, segundo afirmou o advogado para a delegada.
Apesar da ausência, foi indiciada por injúria racial. Este tipo de crime é inafiançável e tem como pena de dois a cinco anos de reclusão.
O “racismo está escancarado”, declarou a delegada Gamboa. Ela disse que está convicta de que houve crime de racismo, após ter tido acesso às câmeras de segurança. Além de imitar um macaco, Thaís teria proferido ofensas às mulheres negras no restaurante, segundo os depoimentos.
Também [me baseei] no depoimento das testemunhas, depoimento das vítimas, no consumo excessivo de álcool e pelo trabalho investigativo.
Delegada Mônica Gamboa
A mulher branca havia consumido bebidas alcoólicas no restaurante em que estava com o marido, segundo a delegada. Conforme a polícia, a nota fiscal da mesa onde Thaís estava mostra que foram compradas no restaurante dez cervejas de 600 ml, ao custo de R$ 210.
O que disse a defesa da acusada
“O advogado alega que Thaís tem problemas de alcoolismo e depressão”, informou a delegada.
A defesa disse que Thaís foi incriminada de forma precipitada. Guerino Junior afirmou, em nota emitida à imprensa, que Thaís não se apresentou à delegacia “por problemas psicológicos e emocionais provocados por uma crise pós-traumática”.
Um laudo da psiquiatra responsável pelo tratamento de saúde da acusada “há vários anos” foi apresentado à Polícia Civil, segundo o advogado. O documento foi anexado à investigação, afirmou a delegada.