O irmão do ciclista que teve os dois pés amputados após se aproximar de um explosivo deixado pela quadrilha que atacou agências bancárias de Araçatuba (SP) diz que a vítima não mexeu no artefato.
Segundo a Santa Casa, Clayton Soares Teixeira, de 25 anos, foi socorrido e encaminhado para a unidade após a explosão. Ele teve ferimentos nas mãos e passou por cirurgia para correção das áreas atingidas pela amputação dos pés.
“Ele falou que passou normalmente na via pública, viu um clarão e logo estava no chão, querendo levantar. Ele olhou para as pernas e mãos, entrou em desespero e disse para ligarem para minha irmã, disse para não o deixarem morrer”, conta Kleber Alberes Soares Teixeira, irmão da vítima.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Clayton ferido após a explosão. Ele relatou para Kleber que, de imediato, não entendeu o que aconteceu e achou que tinha apenas quebrado as pernas.
A família ficou traumatizada e abalada diante da situação, mas acredita que esta é uma nova vida para ele, que se recupera dos ferimentos no hospital.
“A todo momento ele está em desespero, pensando que não vai andar, trabalhar, que não tem como ajudar a mãe. Ele tem que erguer a mão para o céu, porque Deus deu um novo recomeço de vida. Muitos perderam a vida nessa tragédia.”
A situação fez com que o jovem ganhasse uma cadeira de rodas e comovesse moradores de Araçatuba, que fazem arrecadações para ajuda-lo.
Clayton foi um dos cinco feridos no ataque que também deixou três mortos na cidade. Até a manhã desta quinta-feira (2), cinco suspeitos foram presos.
Como foi o ataque
Pelo menos 20 criminosos participaram da ação. Eles chegaram à região central de Araçatuba por volta da meia noite de segunda-feira (30), usaram moradores como escudo humano e espalharam explosivos.
Veículos foram queimados em vários pontos do município e da região para impedir a chegada da polícia. Drones também foram usados pela quadrilha para monitorar a ação.
Vídeos de câmeras de segurança mostram moradores em cima de carros, enquanto a quadrilha foge em alta velocidade. Uma das vítimas colocadas sobre um dos veículos não quis se identificar, mas relatou momentos de terror e insegurança.
De acordo com a Polícia Militar, explosivos foram encontrados nas ruas, nos bancos, em carros abandonados e em um caminhão deixado perto das agências bancárias.
Após mais de 30 horas de trabalho, equipes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) desarmaram e detonaram todos os 97 artefatos em um aterro sanitário do bairro Água Branca. Um vídeo mostra os explosivos sendo detonados.
Com a retirada das bombas, ruas e avenidas foram liberadas na terça-feira (31). Alguns comerciantes aproveitaram para reabrir as portas. As aulas nas escolas da rede municipal e estadual foram retomadas nesta quarta-feira (1º).
De acordo com a Prefeitura de Araçatuba, a vacinação contra a Covid-19 também voltará a ser feita no Multi Shop, assim como a circulação do transporte público na região central do município.
Duas agências bancárias foram assaltadas. Em uma delas, que funciona como uma tesouraria regional, os criminosos tiveram acesso ao cofre subterrâneo. Na outra, a quadrilha atacou os caixas eletrônicos. A terceira agência foi apenas danificada. O valor levado não foi divulgado.
Depois atacar as agências bancárias e trocar tiros com a Polícia Militar, a quadrilha fugiu em direção ao bairro Engenheiro Taveira, onde também roubou veículos de moradores.
De acordo com a Polícia Militar, um veículo com vidro do passageiro adaptado para tiros serem disparados foi encontrado.
“O veículo é de grande porte. Possivelmente, eles deixaram um calibre.50, que é uma arma de guerra, fixado em um tripé. O buraco serve para colocar o cano arma para o lado de fora. Os bandidos conseguem atirar de dentro do carro. Eles ficam protegidos porque o veículo é blindado”, afirma o capitão Alexandre Tropaldi.
Um ônibus abandonado com tambores de gasolina também foi encontrado próximo ao pedágio de Glicério (SP). A suspeita é de que o combustível tenha sido usado pelos criminosos para atear fogos em veículos na Rodovia Marechal Rondon.
Prisões
Até as 21h desta quarta-feira (1º), cinco pessoas suspeitas de participarem do crime tinham sido presas. Em Araçatuba, um casal foi levado à delegacia da Polícia Federal, onde segue à disposição da Justiça. O homem e a mulher são suspeitos de atuarem como olheiros durante a ação da quadrilha.
Em Campinas (SP), um homem foi preso por policiais da Divisão Especializada de Investigações Criminais (DEIC). Em seguida, encaminhado à sede da Polícia Federal de Araçatuba.
Em Piracicaba (SP), dois homens com ferimentos provocados por arma de fogo e considerados suspeitos estão internados na Santa Casa. Um deles foi atingido no abdome e está inconsciente. O outro foi baleado no braço esquerdo e está consciente. (g1.globo.com)